quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Capitu

criatura de quatorze anos, alta, forte e cheia, apertada em um vestido de chita, meio desbotado. Os cabelos grossos, feitos em duas tranças, com as pontas atadas uma à outra, à moda do tempo, desciam-lhe pelas costas. Morena, olhos claros e grandes, nariz reto e comprido, tinha a boca fina e o queixo largo. As mãos, a despeito de alguns ofícios rudes, eram curadas com amor; não cheirava a sabões finos nem águas de toucador, mas com água do poço e sabão comum trazia-as sem mácula. Calçava sapatos de duraque, rasos e velhos, a que ela mesma dera alguns pontos”. Mas foi pelos olhos que Capitu se consagrou: “olhos de cigana oblíqua e dissimulada”


Capitu por:Machado de Assis(Dom casmurro)

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007


Escrevo-te com o fogo e a água. Escrevo-te
no sossego feliz das folhas e das sombras.
Escrevo-te quando o saber é sabor, quando tudo é surpresa.
Vejo o rosto escuro da terra em confins indolentes.
Estou perto e estou longe num planeta imenso e verde.

O que procuro é um coração pequeno, um animal
perfeito e suave. Um fruto repousado,
uma forma que não nasceu, um torso ensanguentado,
uma pergunta que não ouvi no inanimado,
um arabesco talvez de mágica leveza.

Quem ignora o sulco entre a sombra e a espuma?
Apaga-se um planeta, acende-se uma árvore.
As colinas inclinam-se na embriaguez dos barcos.
O vento abriu-me os olhos, vi a folhagem do céu,
o grande sopro imóvel da primavera efémera.



António Ramos Rosa

sábado, 1 de dezembro de 2007

o segredo da ilha

Num fim de tarde do mês de Setembro, num canavial que fica defronte à praia e de frente para a Ilha do Pessegueiro um homem jaz, atado de mãos e de pés,nu,assassinado.
Chamava-se José,estava com o rosto negro de carvão e de corpo feito em cinza.
Uma marca se distinguia do negro,a sua tatuagem no ombro direito.
Os seus sapatos postos num canto arrumados e intactos,a sua camisa pendurada numa cana cortada como se fosse nova e as suas calças ondulavam lá em baixo nas ondas que banhavam a praia,entrelaçavam as pernas no mar inquieto.
Na mão José segurava uma carta que dizia:
"No meu corpo a solução,na minha vida o fim do mistério".

A praia era deserta naquela hora,estava fresco.
A maré era cheia e a areia mal aparecia.
No horizonte um pôr-do-sol magnífico prateava o mar,no horizonte a ilha.

Uma mulher estava no forte construído por piratas.
Vestia-se de branco puro e tinha na cabeça uma coroa de flores igualmente brancas,seus cabelos longos tocavam a cintura e tinham jeito ondulado.
Leonor,era assim que se chamava,era tão branca que parecia nunca ter apanhado sol no rosto.
Apenas os seus lábios rosados se distinguiam de tão pálida tez.


continua...

Inês Leal

(nota:esta história é puramente ficção tendo apenas o cenário como realidade)

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

anjo

Ouvi dizer que hoje não vens
ficaste no sítio onde faleceste
não vieste ter comigo
perdeste todo o teu sentido

Perdeste-me,perdi-te
não voltarei a ouvir falar de ti
não voltarás,eu sei disso
perdeste-me,perdi-te

choro pela tua perda
lágrimas feito chuva a escorrer pelo vidro da janela
Que acabam no parapeito de mármore
evaporam,fico sem elas

uma cruz em vez de ti
uma lápide em vez de mim
sobre o teu corpo permanece
frio o corpo apodrece

Só a alma eu vejo
sobre a minha cama feito meu anjo


Inês leal

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

tempo


Tempo quem és tu?
-Sou audaz e efémero,
sou rápido,quando queres que eu passe devagar
sou lento,quando queres que passe rápido.
Sou o tic-tac e o som do teu dia
Digo-te se estás atrasada ou se estás adiante
Combino com a tua roupa
mas sou normalmente prata como o teu anel.
Sou as horas,os minutos e os segundos da tua vida.
Sou quem te vê envelhecer.
sou quem te diz que o presente se tornou passado.
Olha para mim,são 21.58h!

Inês

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

DUELO ARTÍSTICO

Que importa se morrem?
Que importa se crianças,
de barriga grande, deitam espumas,
de tantas cores, pelas bocas?
Só as cores importam.
Qual será a cor das espumas angolanas?
Será castanho frio no zinco castanho quente?

Que importa?
Só o amor importa.
O nosso amor,
o nosso amor pela nossa vizinha.
Nasce-me água na boca,
(água, não espuma),
porque a nossa vizinha é óptima.
A nossa vizinha é soberba.
Certamente existe um Deus, senão,
Como poderia existir a nossa vizinha?

José Luís Peixoto, 17 anos


(homens...=p)

mulher = homem


  1. Direito à vida.
  2. Direito à liberdade e à segurança pessoal.
  3. Direito à igualdade e a estar livre de todas as formas de driscriminação.
  4. Direito à liberdade de pensamento.
  5. Direito à informação e à educação.
  6. Direito à privacidade.
  7. Direito à saúde e à proteção desta.
  8. Direito a construir relacionamento conjugal e a planejar sua família.
  9. Direito à decidir ter ou não ter filhos e quando tê-los.
  10. Direito aos benefícios do progresso científico.
  11. Direito à liberdade e participação política
  12. Direito a não ser submetida a torturas e maltrato.

La pregunta

La pregunta

Amor, una pregunta
te ha destrozado.

Yo he regresado a ti
desde la incertidumbre con espinas.

Te quiero recta como
la espada o el camino.

Pero te empeñas
en guardar un recodo
de sombra que no quiero.

Amor mío,
compréndeme,
te quiero toda,
de ojos a pies, a uñas,
por dentro,
toda la claridad, la que guardabas.

Soy yo, amor mío,
quien golpea tu puerta.
No es el fantasma, no es
el que antes se detuvo
en tu ventana.
Yo echo la puerta abajo:
yo entro en toda tu vida:
vengo a vivir en tu alma:
tú no puedes conmigo.

Tienes que abrir puerta a puerta,
tienes que obedecerme,
tienes que abrir los ojos
para que busque en ellos,
tienes que ver cómo ando
con pasos pesados
por todos los caminos
que, ciegos, me esperaban.

No me temas,
soy tuyo,
pero
no soy el pasajero ni el mendigo,
soy tu dueño,
el que tú esperabas,
y ahora entro
en tu vida,
para no salir más,
amor, amor, amor,
para quedarme.

sábado, 24 de novembro de 2007


Princesa Desalento

Minh'alma é a Princesa Desalento,
Como um Poeta lhe chamou, um dia.
É magoada, e pálida, e sombria,
Como soluços trágicos do vento!

É fágil como o sonho dum momento;
Soturna como preces de agonia,
Vive do riso duma boca fria:
Minh'alma é a Princesa Desalento...

Altas horas da noite ela vagueia...
E ao luar suavíssimo, que anseia,
Põe-se a falar de tanta coisa morta!

O luar ouve minh'alma, ajoelhado,
E vai traçar, fantástico e gelado,
A sombra duma cruz à tua porta...

Florbela Espanca

café"m m"




Ontem à noite fui beber um café,neste caso um martini,ao café do teatro Maria Matos.
Um lugar acolhedor que tem a arte do bem servir.
Estavamos nós em amena cavaqueira em português,italiano e inglês quando vimos chegar Tiago Bettencourt dos Toranja,primou pela descrição e sorriu quando cantámos uma música por graça...
É um lugar ao qual,com certeza,irei voltar!
ciau
bye
adeus

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

cal


A mulher que sonhava


"Os seus cabelos eram brancos e secos,

eram velhos e mortos.
Eram cabelos mortos e sujos.
A sua pele era muito velha porque era muito mole.
O seu rosto era velho."



José Luís Peixoto

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Amor é fogo que arde sem se ver


Amor é fogo que arde sem se ver

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Luís de Camões

sábado, 17 de novembro de 2007

Pablo Neruda

Os teus pés

Quando não te posso contemplar
Contemplo os teus pés.

Teus pés de osso arqueado,
Teus pequenos pés duros,

Eu sei que te sustentam
E que teu doce peso
Sobre eles se ergue.

Tua cintura e teus seios,
A duplicada purpura
Dos teus mamilos,
A caixa dos teus olhos
Que há pouco levantaram voo,
A larga boca de fruta,
Tua rubra cabeleira,
Pequena torre minha.

Mas se amo os teus pés
É só porque andaram
Sobre a terra e sobre
O vento e sobre a água,
Até me encontrarem.

saltos altos

Os saltos altos incomodam-me
os baixos também
Andei o dia todo ruelas e vielas acima
O cinzento e o branco,o branco que é negro
negro de alma em mim.
Hoje rio e amanhã choro
rio e choro
lágrimas de alegria e de tristeza
escondida dentro de um olhar brilhante
inadvertidamente hoje senti-te
consolada hoje senti-te
com a certeza que amanhã já não existes
já não és,nem eu sou quem fui
dou voltas,ando à roda
e fico tonta de volta ao mesmo lugar
ontem fui quem hoje já não sou


Inês Leal

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

"Vem que o amor não é o tempo
nem é o tempo que o faz
vem que o amor é o momento
eu que eu me dou
em que te dás..."

António Variações

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Estarei eu lúcida?
Estarei eu tão lúcida que não entendo este mundo?
Lúcida para mim é sinónimo de loucura,
quanto mais lúcida me sinto menos feliz sou
e como não sou feliz enlouqueço de tanta lúcidez...

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Lisboa também é mulher

No castelo, ponho um cotovelo
Em Alfama, descanso o olhar
E assim desfaz-se o novelo

De azul e mar

À ribeira encosto a cabeça
A almofada, na cama do Tejo
Com lençóis bordados à pressa
Na cambraia de um beijo

Lisboa menina e moça, menina
Da luz que meus olhos vêem tão pura
Teus seios são as colinas, varina
Pregão que me traz à porta, ternura
Cidade a ponto luz bordada
Toalha à beira mar estendida
Lisboa menina e moça, amada
Cidade mulher da minha vida

No terreiro eu passo por ti
Mas da graça eu vejo-te nua
Quando um pombo te olha, sorri
És mulher da rua
E no bairro mais alto do sonho
Ponho o fado que soube inventar
Aguardente de vida e medronho
Que me faz cantar

Lisboa menina e moça, menina

Ary dos Santos

domingo, 21 de outubro de 2007


Hoje,mais um dia de verão em pleno final de outubro.
Não,não me enganei é estranho este tempo que nos troca as voltas.
Mas não vim aqui escrever sobre isto...
Quero dizer a todas as mulheres que hoje sofrem deste mal(cancro) que a mulher não se resume a uma mama,
a mulher é uma perfeição e não é por ter sido mastectomizada que o deixa de ser.
Muitos homens que abandonam as esposas por causa de um cancro para mim não são homens.
Eu sei do que estou a falar,infelizmente tenho uma mulher na familia que passa por isso e é em nome dela que digo:Não percam a esperança!

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

vantagens

Ser mulher tem as suas vantagens?
Claro que sim,aqui estam algumas delas:
  • Ir a passear na rua e ser o centro das atenções masculinas
  • Deixar cair algo e não ter o trabalho de apanhar e esperar que um cavalheiro apanhe
  • Não ter de abrir portas,haverá sempre um homem que o faça por nós
  • A mulher é o ser mais inteligente,quer queiram,quer não
  • Mulher que é mulher é capaz de resumir um homem atrevido a lixo
  • Ser mulher é ser sensivel e fazer feliz o homem que ama
  • Fazer tudo pelos filhos

domingo, 14 de outubro de 2007

Levanto-me sem vontade e ergo o meu corpo verticalmente.
Ai...lá vem mais um dia frustrante!
De trabalho que não é o meu.
De vida que não é a minha e derrepente anoiteceu...
Volto para casa e está tudo igual,nada mudou e não sei se isso é bom.
Sinto-me inùtil por não poder ajudar quem me criou e quem me deu a vida,
lá vem mais um dia...
Trabalho,aulas,casa...e outro dia e outro e mais outro.
Já passou a minha vida,hoje dei conta!
Já não posso fazer nada, já nem inùtil sou...

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

trapos

Anoiteceu aqui,
há apenas silêncio e mais silêncio.
O som sem eco dentro de mim.
Estou de negro e cinzento,
hoje estarei de luto,
amanhã nem sei.
As minhas vestes são iguais a mim
de tecido velho e roto,
sem eira nem beira,
sem sentido,sem rumo...

domingo, 7 de outubro de 2007

amanhã

Olhando o horizonte como se não houvesse amanhã,assim estou eu.
Numa rua de fogo cruzado e sem arma para me defender...
A vida alveja-me sem dó nem piedade,com derrotas,victórias e oportunidades. Uma janela abre-se e é dela que vejo o horizonte banhado pelas luzes trépidas do pôr-do-sol,é dela que avisto a luz de esperança que hoje chega até mim.
É azul,laranja,amarelo e vermelho misturados de vida em mim.É prata nas águas que bebo,é vida na sua mais gloria forma.

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

recados

Hoje estive a olhar bem para ti sentado à minha frente
demos pouca atenção aos que nos rodeavam
é mais forte que nós e que razão
ouvimos apenas as nossas vozes no meio de tanta gente a conversar
vejo que me olhas com desejo e com paixão
é efémera esta paixão
é estranhamente...ofegante
sim é essa a palavra,ofegante!
é assim que me sinto quando te encontro
e será tudo o que teremos juntos
um olhar...
um sorriso...
um olá...
nada mais,
nada mais teremos um do outro.

recados

Vejo-te no vazio do meu olhar submisso e infinito,
sinto o teu coração bater ao mesmo ritmo que o meu
contemplando compassos fortes e poderosos.
São fugazes os momentos em que os nossos olhos se encontram mas quando isso acontece tenho dúvidas...duvido que me vejas ou que me escutes,
duvido de mim
e de ti também.
É platónico e audaz
e talvez seja por isso que é tão bonito e florido.
Sonho,
sonho mas espero que nunca se realize pois mudaria tudo em nosso redor.
Prefiro que nunca seja real.

domingo, 30 de setembro de 2007

mulher

Ser mulher é ser mãe,
é usar saltos altos e olhar em frente,
ter de vencer batalhas todos os dias
e controlar as lágrimas.

A mulher carrega no ventre os filhos,
seres que não são dela mas sim do mundo.
Mata por eles,ri e chora
e mãe é nunca os abandonar

É ser feminina e sensível,
é ser forte e de ferro,
é rir quando lhe apetece chorar.

A mulher é o ser mais forte que conheço
é a que tem tudo e a que não tem nada
é a que limpa,a que varre,a que sangra...

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

carta de amor

Quando dei por mim
diante ti,amei-te.
Quando o teu olhar
me cruzou,amei-te.
Quando a tua voz
se dirigiu a mim,amei-te.
Mesmo quando não falaste
e quando te respondi,amei-te.
Mesmo quando não me olhaste,
mesmo quando não me falaste
e mesmo quando não me amaste,
amei-te!